Purgatório de Lamentos

Purgatório de Lamentos


Num jardim de almas mortas
Eu vivo prisioneira
Pesadas correntes de espinhos
Prendem-me à melancolia das trevas
Um muro alto de maldade impede-me de ver além da solidão
Anjos e demônios da noite
Entram no meu mundo triste e solitário
Famintos, alimentam-se dos corpos pútridos
caídos na poeira da terra
Cansados, adormecem nas rosas negras deste cemitério
Rosas regadas com meu sangue e minhas lágrimas
Rosas que cobrem meu piano
Ah, o meu velho piano!

Ao som do meu piano
Canto os lamentos deste mundo demente
E meu castigo
Suportar confissões sem sentido para todo o sempre
Inveja humana… ingratidão
Heresia… e incompreensão
Reflexos de lamentação
Tortura sem fim
Por que não há morte para mim?

Ah, o meu velho piano!
Amigo de longa data
E minha companhia eterna
Neste velório de sentimentos
As portas do inferno
Sinto lágrimas no olhar
Dor no coração
Sem forças para gritar
Ao profeta do apocalipse
Adeus ao viver
Num ritual absurdo
Desejar o que não posso ter
Simplesmente
Suspirar e morrer


Cátia Santos