Pesquisar neste blogue

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Nota sobre paixão



Pode-se pensar que a paixão amorosa (tão cantada e decantada em prosa, verso e reverso) não passa de uma máscara para o tesão: algo como uma cômoda maneira de maquiar a crueza de nossos "baixos instintos".
Penso, ao contrário, que ela é uma das raras oportunidades que temos para viver o sentimento de algo que nos ultrapassa, de algo que é maior que nós mesmos.
Sem dúvida o tesão está incluído nesse pacote; mas o tesão por si mesmo seria insuficiente para explicar o alívio e o êxtase proporcionados pela paixão amorosa: alívio e êxtase relacionados, claro está, ao ultrapassamento da mesquinhez de uma vida fechada em si mesma, ou seja, meramente voltada para sua própria conservação e prazer.
Há algo de heróico na paixão amorosa que nos eleva à condição de heróis de nosso próprio amor; e não deixa de ser um tanto trágico que em muitos casos seja difícil saber o que é maior, o amor que sentimos pelo outro ou o amor que sentimos pela paixão nela mesma.

A paixão amorosa é uma abertura:

ela nos faz sair de nós mesmos e ir além de nossas preocupações meramente fricativas e digestivas.
Só que a paixão amorosa, se não conduz a um novo fechamento, conduz a uma busca incessante de repetição.
Não é difícil entender porque isso acontece.
Por definição, a paixão depende de um outro que nos afeta; e é por um único e mesmo movimento que ela nos abre para o outro e desloca nosso centro de gravidade para algum ponto fora de nós mesmos.
É por isso que as alegrias extremas remetem à ação - auto-afecção, self-enjoyment ou, em uma palavra, à criação - e não à paixão.
Aquele que age (nesse sentido bem determinado, que eu diria spinozista) já não está fechado em si, mas também não está fora de si: pois ele conseguiu, de algum modo, colocar todas as coisas dentro de si para fazê-las refluir como dom à "humanidade mal-agradecida".

A paixão quer tudo para si;

mas a ação, porque já encerra em si tudo de que precisa, realiza de fato a abertura: como dádiva. Não importa o que se faz e o que se dá: panquecas, biscoitos, cantos, textos e assim por diante; o que importa é que em cada uma dessas coisas se tenha posto o melhor de si, a mais pura medida de vida. E se existe na filosofia algo que serve para absolutamente todos, é essa idéia de que a liberdade não está "dada" de antemão, mas que ela é uma conquista, e a maior de todas.

Sem comentários:

Nota Importante

Nota: Este é um site pessoal, onde reúno tudo que aprecio e recolho da NET em termos de poesia, literatura, imagens e afins. Também coloco textos pessoais, ou de amigos. Não quero violar nenhum direito autoral, mas caso alguém se sinta "prejudicado" ou "violado" por eu gostar de seu trabalho, por favor, entre em contato clicando Aqui que retiro imediatamente. Poetheart